segunda-feira, 23 de abril de 2012

Saudades do que não existiu

Abro a porta e a vejo como um anjo vagando pelo meu mundo. Sempre que miro aquele olhar me perco na imensidao daqueles olhos castanhos. Olhos que despertam em mim a vontade de viver. Olhos que refletem toda a minha alegria. Beijo-a como se fosse a primeira vez, e entramos no carro. Rimos como a primeira risada. Brincamos como a primeira brincadeira. E o principal: amamos como da primeira vez. Na verdade desconfio que nosso amor cresce com o tempo. Mas como cresce se ja era infinito da primeira vez que a vi? Saímos do carro naquela noite fria de outono e entramos no restaurante que costumamos ir, onde o som do mar sauda nossos ouvidos, misturado com o solo do violonista sempre pronto a embalar a noite dos apaixonados. E, sim, éramos apaixonados. Naquele momento, com toda aquela gente, éramos apenas eu e ela. Nada existia. O garçom, que já nos tem como eventuais freqüentadores do local, nos traz aquela minúscula taça de vinho do Porto, que sempre nos intrigava pelo seu tamanho e sua imponência. Acompanhando, um belo fondue com uma mistura de queijos que sempre a agradava. A noite estava perfeita para nós dois. De repente ouço o ronronar de meu gato em meus ouvidos. Encontro-me com uma garrafa de vinho barato, vazia, nas mãos. Pego-me entao na solidão, em companhia apenas da minha lembrança, de certa forma atordoada pelo álcool que percorre meu sangue. E enfim, tudo se desfaz no frio do meu quarto.